segunda-feira, 16 de junho de 2008

Compostela - Capítulo 1 - Parte II

Corta para o hospital em que Lívia (32) trabalha, num bairro nobre em Porto. Uma maca carregando uma criança acidentada entra pelos corredores. Lívia é uma mulher bonita e bem-sucedida, imagino-a como Flavia Alessandra. Ela aparece a passos rápidos, de bata, alcançando a maca rapidamente, enquanto vai recebendo informações sobre o paciente. O enfermeiro Pádua está levando o menino


Lívia (aflita)- Oi, Pádua, fiquei sabendo agora, o que houve?
Pádua - Uma leve fratura na perna esquerda


Lívia olha para a criança, que está chorando. Ela põe a mão na mão dela e a tranquiliza


Lívia - Cá nós vamos cuidar de você, tudo bem?


A criança faz um sinal afirmativo, as lágrimas ainda escorrendo pelo rosto. A maca entra numa sala especial para o tratamento de fraturas


Pádua - Doutora Lívia, quantos enfermeiros devo chamar?

Lívia - Só você mesmo, Pádua...quero ver a radiografia dele


Pádua entrega o diagnóstico, que é examinado por Lívia, contra a luz. Depois volta-se para o menino, abaixando-se para ficar na altura dele, e falando de uma forma maternal


Lívia (interessada, curiosa e maternal)- Qual o seu nome?

Mateus - Mateus

Lívia - Mateus, meu amigo Pádua vai apenas engessar sua perninha, tá?


E se levanta para falar pra Pádua que basta engessar a perna do menino


Mateus - Tu falas de uma forma mofada, por que?

Lívia (sorrindo)- Eu não sou daqui, Mateus, sou brasileira

Mateus - Mas tu falas português também?

Lívia (rindo, antes de explicar) - A língua é a mesma, mesmo com algumas mudanças entre Brasil e Portugal...melhor tu ires, ou vão criar mofo sobre tu na tua escola

Mateus - Mas eu sou matula, porque eu não chorei muito

Lívia (sorrindo)- Vou te chamar de matulão se ficar sem chorar enquanto o Pádua engessa tua perna


Pádua traz o material necessário. Sobe som, mostrando Lívia e Mateus conversando enquanto Pádua se prepara para engessar a perna do menino


Corta para o aeroporto. Aurora está segurando um par de óculos escuros enormes, que adora usar. Os anos em Portugal lhe permitiram adotar um figurino português, com muitos babados e sobreposições, deixando-a como uma verdadeira senhora européia. Ela está procurando a família em meio a uma multidão de passageiros no aeroporto. Ela ouve alguém chamar "mãe" e se vira. Euclides sorri a poucos metros de distância dela, junto a Bruno e Rui, que estão com as bagagens. Close no sorriso estampado de Aurora e no sorriso muito bonito de Bruno. Aurora corre para os filhos e o ex-marido e os abraça com força, emocionada


Aurora (Ainda abraçada a eles)- Meus filhos. Como estão lindos, os meus filhos...Meu Deus, que saudades!


Aurora beija a testa de cada um deles, além de um caloroso abraço em Rui


Euclides - Mãe, parece que morar por aqui só melhorou seu visual, hein? Tá uma verdadeira gata!
Aurora (sorrindo, feliz)- Eu nem consigo acreditar que os meus maiores tesouros estão aqui...vocês cresceram tanto! Euclides, e esses músculos, hein? As meninas lá de São Paulo não devem te deixar em paz
Rui (num tom malandro)- Imagina as portuguesas, quando ele resolver sair pra conhecer a cidade


Bruno sorri, sem-graça


Aurora- Agora vocês vão conhecer a lomba onde eu moro. Já preparei almoço e tudo!
Rui (confuso)- Peraí...lomba? mas o que é que é isso?
Aurora (dando uma sonora gargalhada, percebendo que falou no português local)- Ai, ai...eu esqueci que algumas palavras só fazem sentido aqui. Lomba aqui em Portugal é o mesmo que ladeira. As cidades são cheias, vocês vão ver só...Bruno, deixa eu te ajudar com a bagagem
Bruno- Ah, que é isso, mãe...eu posso levar
Aurora- Então vamos, que o meu carro está logo ali na frente


Imagens dos quatro andando pelo aeroporto, a caminho do estacionamento


Rui - Ainda bem que a temperatura aqui tá bem mais agradável que em São Paulo. Saímos de lá num frio de dez graus
Aurora- Ah, mas aqui em Porto costuma esfriar bastante à noite também, vocês vão ver. Ahhh, vocês tem que ver o quarto que a Dalva já preparou pra vocês! um charme só!
Rui - Quarto?!
Aurora- Claro, afinal vocês só viajam na segunda-feira, não é? Ainda temos hoje e amanhã para aproveitar nossa família...que passou tanto tempo sem se ver


Rui e Euclides se olham, com expressão de "é...é o jeito". Eles chegam ao local do carro. Rui e Euclides guardam as bagagens enquanto Aurora se acomoda na direção, sorridente


Bruno (pensativo)- Dez anos...

E faz uma expressão de "nada mudou" antes de guardar o carrinho da bagagem e entrar no carro

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Compostela - Capítulo 1 - Parte I


Imagens aéreas do norte de Portugal. Início da Manhã. Muito sol e imagens bonitas. Imagem do avião em que se encontram Euclides (38), Rui (65) e Bruno (30), sentados juntos à janela. Euclides é moreno, bonito, com músculos salientes e passa uma impressão de homem bem-sucedido na vida e com si mesmo. Rui é o típico pai senhor de idade: humor sarcástico para disfarçar uma certa amargura com a idade, mas ama os filhos e sente muito carinho pela ex-mulher, ainda que se se falem raramente. Bruno também é bonito, como Euclides, mas frequentemente fica à sombra do irmão, por ser mais reservado, muitas vezes guarda as coisas para si mesmo e as atenções costumam ser direcionados ao irmão popular (ainda que Euclides não ligue para o favoritismo constante). Bruno está lendo um livro, provavelmente um guia turístico da região de Porto, onde o avião pousará. Euclides conversa animado com o pai

Euclides - É, finalmente, Portugal! Eu não ia conseguir mais esperar nem mais uma hora nesse avião
Rui - Ora, Euclides, você nunca foi de esperar mesmo...
Bruno (fechando o livro e sorrindo para o irmão) - Eu ainda tô impressionado de te ver tranquilo depois de nove horas de viagem
Euclides - Faz tanto tempo que eu não vejo minha mãe
Rui - Ah, Aurora nunca foi de dar notícias, mesmo...em relação a nada (enfatiza o nada), principalmente quando resolveu seguir essa carreira de pintora
Bruno (repreendendo) - Pai...
Rui (se corrigindo) - Tá bom! Tá bom! Não tá mais aqui quem falou! Mesmo que vocês não lembrem que eu fui casado com ela por duas décadas!!
Euclides - Ela não vai gostar de saber que você já pretende viajar hoje, pai
Rui - Ah, mas ela sabe o quanto esperei por essa oportunidade...Compostela é uma região que sempre fez parte dos meus sonhos de estudos religiosos
Bruno- Sim, mas, até agora eu não entendi o que um pesquisador do paganismo vai fazer num lugar chamado Santiago de Compostela, que abriga uma catedral de origem católica, ainda por cima
Euclides - Bruno, Compostela também é um local visitado por bruxos e outros paganistas. O catolicismo é só uma fachada para uma verdadeira rede mística nessa região da Espanha
Rui ( brincando, fazendo cara de espanto)- Hmmm, quem diria que Euclides iria completar uma informação de Bruno
Euclides (balançando a cabeça, cético) - Não pedi licença do jornal à toa, não. Eu quero produzir a melhor matéria turística que o "Hoje em São Paulo" já produziu
Bruno (sorrindo) - E pelo jeito, ainda vai dar pra esticar, colocando a matéria num caderno sobre religiões

Euclides faz um gesto de "você não tem jeito, mesmo" e olha para a paisagem pela janela. O avião pousa. Imagens da cidade de Porto: A Ponte do Infante, A Casa da Música, Rio Douro. Ambientação na casa de Aurora (69): um sobrado muito bonito, no estilo português, com fachada de fino acabamento e um interior que denuncia a profissão dela. Muitos quadros, a maioria ainda não foi finalizada. Os móveis são confortáveis e a casa muito arejada, por ser no topo de uma ladeira. A casa tem janelas grandes, com vistas bonitas para o bairro, mas ainda assim, para os padrões portugueses, trata-se de uma casa "simples". Aurora está animada na cozinha, com Dalva (48), empregada de longa data, preparando o almoço

Aurora (feliz) - Dalva, não se esquece de colocar aquele molho de francesinha que você sempre faz! Quero que meus filhos tenham uma refeição tipicamente portuguesa
Dalva (enquanto mexe o caldo de uma panela)- Pode deixar, Dona Aurora...Seu Euclides e Seu Bruno vão adorar os pratos que eu tô preparando
Aurora - Eu já preparei as tripas à moda...está di-vi-no!
Dalva - Mas, Dona Aurora, eles não iam chegar agora pela manhã?
Aurora - Eu sei, Dalva, eu sei! Já vou buscá-los no aeroporto! Pela primeira vez, em dez anos, vou ver os meus filhos...a pressa hoje não é pra entregar nenhum quadro, é pra ver a minha família! Beijo, Dalva! Cuidado pro caldo verde não passar do ponto...
Dalva- ...e nem o vinho estourar no congelador, eu já escutei isso umas dez vezes hoje!
Aurora (se despedindo, sorridente) - Eu vou ver meus filhos!

Imagens de Aurora entrando no carro e dirigindo pelas ruas de Porto. Muitas ladeiras e monumentos históricos, antes de chegar nas avenidas principais que dão acesso ao aeroporto.